Um elástico pode esticar até deformar e arrebentar ou pode ficar ileso após ser distendido. Na física, essa capacidade de um material voltar ao seu estado natural depois de ter sofrido tensão é chamada de resiliência. No dia a dia, muitas pessoas demonstram essa mesma habilidade: se recompõem rapidamente após situações extraordinárias em sua vida pessoal ou na carreira.
No mercado de trabalho, profissionais com elasticidade emocional reduzem os efeitos do estresse na organização e a incidência de doenças e de acidentes. O desempenho individual e a eficiência nas tarefas melhoram.
Presidente da International Stress Management Association (Isma-BR), entidade dedicada à prevenção e ao tratamento do estresse, Ana Maria Rossi explica que algumas pessoas nascem com essa característica e outras podem desenvolvê-la:
— Para aprimorar essa competência, o profissional precisa trabalhar a autoestima, treinar o autocontrole, buscar ser flexível de forma criativa e estabelecer metas a si mesmo. O otimismo e o senso de humor também se tornam aliados de quem quer evoluir nesse sentido.
Quanto mais qualificado for o estilo de vida do profissional, melhor ele vai responder aos estímulos — positivos e negativos — diários. De acordo com Léo Berlese, coordenador do treinamento vivencial Conexão Alpha do Rio Grande do Sul, as empresas podem proporcionar aos funcionários as ferramentas para incentivar esse comportamento. A começar pelos gestores.
— A capacidade de empatia (de se colocar no lugar do outro) é uma das chaves para o líder estimular as qualidades nos componentes de seu time. Primeiramente, ele precisa entender que um fato, por si só, não tem emoção. O sentimento é gerado a partir do significado que aquela questão tem para cada um — ensina Berlese.
Para reduzir os danos à saúde, ações como o Programa de Desenvolvimento Psicossocial, do Banrisul, ajudam a estimular o fortalecimento das relações interpessoais e a melhoria do ambiente laboral. Atividades ao ar livre (foto) são um ponto importante na estratégia da instituição de auxiliar profissionais expostos ao risco de violência.
— Corpo ativo ajuda a tornar a pessoa mais resiliente. Quando ela começa a produzir os hormônios de bem-estar por meio da atividade física, se sente mais forte e disposta a superar os seus limites —afirma Cláudia Lucchese, coordenadora da área de qualidade de vida do banco.
Aprendendo a ser um profissional resiliente
No dia em que embarcaria para os jogos pan-americanos de Guadalajara, em 2011, o patinador gaúcho Marcel Stürmer teve o carro roubado com todo o seu equipamento de trabalho, incluindo a roupa da apresentação e os patins devidamente amaciados. Mas errou quem pensou que a medalha de ouro partia junto com o veículo carregado. Na mesma hora, o atleta começou a traçar planos para a apresentação, conseguiu novo material e embarcou. Tão logo desceu para a primeira competição, já calçou as botas ainda duras e recomeçou.
— Tirei o que tinha de positivo daquela situação, pois naquele momento toda a pressão de ser o favorito saía dos meus ombros. Assim, me foquei exclusivamente em mim, sequer enxerguei os adversários, e saí de lá como campeão. Minha autoconfiança aumentou muito, e hoje vejo que aquela situação acabou sendo revertida a meu favor — conta o campeão gaúcho.
Essa capacidade de reagir ao imprevisto de maneira proativa é o que mostra a resiliência do atleta gaúcho. De acordo com levantamento feito pela International Stress Management Association (Isma-BR), 70% dos profissionais sofrem com sequelas de estresse e apenas 23% apresentam características de resiliência.
A boa notícia que é essa habilidade pode ser desenvolvida por meio de treinamento especializado que envolve a cognição (fornecendo modelos mentais de como avaliar os estressores com precisão), a emoção (estabilização do humor) e a ação (tratando dos problemas) a fim de promover estratégias eficazes.
Paulo Yazigi Sabbag, professor da Fundação Getulio Vargas, idealizou uma escala para avaliar o nível de resiliência de profissionais, com nove fatores: autoeficácia, solução de problemas, temperança, empatia, proatividade, competência social, tenacidade, otimismo e flexibilidade mental.
— O conceito de resiliência teria pouca aplicabilidade se não fosse possível mensurá-lo em indiví-duos. A questão de como medi-la, porém, não é simples. Se é uma capacidade ou processo de adaptação, seria necessário avaliar as respostas reais e não presumidas em um grande conjunto de situações adversas. Isso não é viável. Daí a preferência por escalas baseadas em comportamentos presumidos diante de situações usuais. Melhor uma medida imperfeita que a ausência de medidas — aponta Sabbag.
Características de um perfil elástico
Índice
Autoeficácia e autoconfiança
Crença na própria capacidade de organizar e de executar ações para produzir resultados desejados.
Empatia
Aptidão para compreender o outro em seu quadro de referência. Colocar-se no lugar do outro, mantendo sintonia com seus próprios sentimentos e os do outro.
Competência social
Permite articular apoio de outros em situações adversas, tanto para obter ajuda quanto para não sentir-se desamparado.
Proatividade
Propensão a agir frente a situações adversas. Envolve iniciativa do profissional, mesmo quando há risco e incerteza. Reatividade, ao contrário, é a propensão a apenas reagir aos acontecimentos.
Flexibilidade mental
Deriva da maior tolerância a ambiguidades. Pessoas flexíveis persistem e tentam novas táticas de forma pragmática e criativa.
Solução de problemas
Competência para diagnosticar problemas, planejar soluções e ter a iniciativa de agir. É uma visão prática das situações.
Tenacidade
Capacidade de suportar pressão e estressores sem sofrer estresse. Resistência física e mental em situações muito demandantes.
Otimismo aprendido
Modo de encarar o mundo de forma positiva, considerando as dificuldades como temporárias, sem assumir para si as circunstâncias, o azar ou os atos das outras pessoas. É a capacidade de contrapor emoções positivas às negativas nos momentos difíceis.
Temperança
Capacidade de regular as emoções em situações muito difíceis. Significa manter a serenidade quando submetido a pressões. Destemperança é a perda de controle das emoções nessas situações, provocando a impulsividade.
Fonte: Escala de Resiliência Sabbag (ERS)
Competência que pode ser desenvolvida
Autoestima
-Pessoas com autoestima baixa dificilmente correm risco. Portanto, é fundamental acreditar em si mesmo e aprender com seus erros (não é por que não deu certo uma vez que não se possa tentar de novo).
-Peça ajuda quando necessário (pessoas com pouca autoconfiança temem pedir auxílio por medo de serem substituídas).
Objetivos definidos
-Fixe metas de curto e médio prazo.
-Lembre-se de que determinação não é obsessão. Pessoas obsecadas não conseguem parar mesmo quando vêem que não dá mais. A pessoa determinada busca alternativas de como transpor obstáculos.
-Estabeleça prioridades e monitore suas ações no dia a dia para serem compatíveis com os objetivos.
Autocontrole
-Não se deixe manipular por situações ou por outras pessoas.
-Se alguém der um retorno negativo, tente racionalizar, procure assimilar e descobrir a melhor forma de lidar com essa informação.
-Não dependa da aprovação de outras pessoas para fazer o que quer e o que precisa fazer.
-Não viva com culpas, saiba que está sempre fazendo escolhas, umas darão certo e outras não.
Flexibilidade e criatividade
-Seja otimista e veja os obstáculos como desafio.
-Mude de planos se necessário e crie novas alternativas.
Fonte: Zero Hora – RS