Imagine se um dirigente de empresa pudesse saber quais serão os hábitos de consumo de seus clientes em 2025. Ou conhecer quais produtos serão extintos na próxima década. Antecipar o futuro, em tese, daria à empresa um trunfo competitivo em relação aos concorrentes.
A boa notícia é que isso é possível sem a necessidade de se recorrer a uma bola de cristal. Há uma ciência capaz de ajudar as empresas a identificar tendências no presente que podem ser determinantes para o futuro da organização: o futurismo.
“Ao observar e entender as mudanças que acontecem hoje na sociedade, o empreendedor tem mais embasamento para desenvolver o planejamento estratégico que vai nortear as ações da empresa em longo prazo”, afirma Rosa Alegria, especialista em prospecção estratégica e sócia da consultoria de tendências Perspektiva.
Numa época de incertezas, prever um panorama econômico tende a ser ainda mais difícil. Porém, passa a ser muito mais necessário. “O sucesso no futuro depende das inovações que o empreendedor desenvolve no presente”, diz Rosa. “Mas é preciso ter métodos.”
Conversamos com a especialista para saber como o empreendedor pode identificar algumas tendências atuais para preparar a sua empresa para o futuro. Veja:
POR ONDE COMEÇAR
De acordo com Rosa, o primeiro passo é diversificar as fontes de informação. Paralelamente à leitura de jornais diários e tradicionais programas de televisão, o empreendedor deve recorrer a revistas e sites especializados. Rosa indica, por exemplo, as revistas americanas Fast Company e Wired. “Blogs também trazem temas relevantes que ainda não chegaram à grande mídia.”
Outra fonte de informação preciosa são registros de patentes. Esses documentos trazem especificações técnicas de produtos que estão em desenvolvimento e só vão chegar às lojas anos mais tarde.
O empreendedor também precisa ir às ruas. O proprietário de uma loja de vestuário deve passear pela cidade para ver como as pessoas estão se vestindo, mesmo que não pertençam ao seu público-alvo.
Um exemplo bem comum para entender essas relações são os jeans rasgados. Há algumas décadas, a peça era usada por jovens como forma de protesto frente ao consumismo. Hoje, peças bem parecidas se destacam em catálogos de grifes de moda.
A especialista também recomenda a visita às chamadas lojas-conceito de grandes marcas, como a recém-inaugurada pela Dafiti, na rua Oscar Freire, em São Paulo. Na loja, o cliente escolhe as peças que deseja provar usando um tablet. Em seguida, os itens são levados para o provador. Ao finalizar a compra, o cliente nem precisa carregar sacolas – os produtos podem ser enviados para a sua casa no mesmo dia.
Durante a pesquisa não pode haver preconceitos ou limitações. Um empreendedor do varejo também deve conhecer tendências do setor de serviços – e vice e versa. Os assuntos também devem ser amplos. Qual o impacto que mudanças em blocos econômicos ou aprovação do casamento gay podem causa no seu negócio?
Talvez, a matéria-prima utilizada na fabricação dos produtos vendidos na sua loja seja importada e parte de seus clientes seja casais homoafetivos.
O QUE FAZER COM AS INFORMAÇÕES
Com base nas pesquisas, o empreendedor deve fazer relações com a sua área de atuação. Uma metodologia indicada por Rosa consiste em cinco passos:
• Identificar as mudanças: o que está acontecendo de diferente na demografia, economia, meio ambiente e tecnologia.
• Analisar os possíveis impactos na empresa: de qual forma essas mudanças afetam a organização.
• Projetar cenários: quais desdobramentos e inovações que essas mudanças poderão proporcionar.
• Criar uma visão para a empresa: como a empreendedor imagina a atuação da sua empresa no futuro.
• Iniciar o planejamento estratégico: o que fazer para atingir os objetivos desejados considerando o novo panorama.
Segundo Rosa, que irá ministrar um workshop sobre o tema em junho (leia abaixo), as pequenas e médias empresas que não se preocupam com pesquisa de tendências, seja por desconhecimento ou falta de recursos, costumam pular etapas e fazem apenas o planejamento estratégico. “Nesses casos, o risco de não atingir os objetivos tende a ser altos.”
POR ITALO RUFINO
Fonte: Diário do comércio