No próximo dia 22 de março, Renan Araújo será um dos milhares de candidatos que realizarão o exame de suficiência do Conselho Federal de Contabilidade (CFC) em todo o País. O estudante de Ciências Contábeis da Ufrgs deve se formar na metade do ano, mas já tentará obter o registro na primeira prova de 2015.
Às vésperas do teste, Araújo tem procurado estudar conteúdos que caíram em anos anteriores. “A nossa preparação, na Ufrgs, é feita ao longo da faculdade, mas, nesse meio tempo até o exame, quero revisar alguns conteúdos”, diz. Nesse sentido, Araújo pretende dar atenção especial a temas como os princípios fundamentais da contabilidade, a estrutura das demonstrações contábeis e as normas internacionais.
Esta será a nona edição do teste desde a retomada da obrigatoriedade da aprovação no exame para o exercício da profissão, em 2011. Até o momento, foram 250,1 mil candidatos a contadores no País, sendo 94.639 aprovados (41,64% do total). Na mais recente edição, no segundo semestre de 2014, o indice de candidatos bem-sucedidos foi de 41,73%.
Entre os técnicos de contabilidade, somando todas as edições até o momento, houve 52.071 postulantes, sendo que somente 14.207 (31%) atingiram a nota mínima exigida. Para obter o registro, o candidato precisa acertar, ao menos, 50% questões. O vice-presidente de Registro do Conselho Federal de Contabilidade (CFC), Nelson Zafra, enfatiza que a prova de março deve manter o mesmo nível de exigência das demais edições.
Segundo o dirigente, após uma série de índices baixos de aprovação nas primeiras edições, a tendência é de resultados cada vez melhores. “A contabilidade sofreu uma série de alterações. A preparação dos professores para ensinar esse novo padrão contábil leva tempo. Os primeiros resultados da prova, que não foram bons, serviram para ligar uma luz amarela. Diversas universidades começaram a realizar melhorias no ensino a partir dali”, lembra. Zafra acredita que o exame já está consolidado. “Já há consciência sobre a importância da necessidade do exame. Os mais antigos talvez sejam mais resistentes, mas os novos estudantes já estão acostumados com a ideia de fazer a prova”, afirma.
O dirigente ressalta que a edição de março será a última na qual haverá a prova para os técnicos de contabilidade. “A partir do segundo semestre, só os bacharéis poderão realizar o exame e obter o registro”, destaca. O ideal para o postulante à certificação é ir se preparando ao longo da faculdade, destaca a vice-presidente de Gestão do Conselho Regional de Contabilidade do Rio Grande do Sul (CRCRS), Ana Tércia Lopes.
Mesmo assim, Ana recomenda que, com a proximidade do teste, o candidato foque os estudos nos conteúdos que mais pesam na prova, analisando as edições passadas ta. “O aluno deve dar atenção especial à leitura das normas, principalmente as normas brasileiras de contabilidade, questões ligadas a ativos intangíveis, imobilizado e estoques. Também sempre há nas provas questões de custos, contabilidade gerencial e aplicada ao setor público”, lembra.
Taxa de aprovação fica acima da média no Estado
A instituição do exame de suficiência, em 2011, coincide com um momento de transição no ensino da contabilidade em uma série de universidades do País. A partir da vigência dos padrões internacionais e de outras mudanças recentes envolvendo a profissão, as grades curriculares de muitos cursos vêm sendo alteradas. No caso do Rio Grande do Sul, as modificações na academia parecem estar dando certo. No exame do CFC, o Estado possui índices de aprovação superiores à média nacional.
Na mais recente edição, no segundo semestre de 2014, o índice de aprovação entre os 1.527 bacharéis que realizaram a prova foi de 61,6%, de acordo com as estatísticas do CRCRS. O resultado garantiu elevação no número de aprovados pela quinta prova consecutiva desde o segundo semestre de 2012, quando houve o menor percentual de profissionais gabaritados até então (33,9% de de 1,3 mil pessoas). Somando as oito edições realizadas até agora, são 5.881 aprovados, alcançando 48,6% dos inscritos.
No teste para técnico em contabilidade, em comparação com os bacharéis, menos pessoas alcançam a nota para obter o registro. Na última edição, apenas 23,9% conseguiram. Analisando todas as edições, nessa categoria, os índices de sucesso oscilaram entre 16,1% e 55,3%.
O coordenador da graduação em Ciências Contábeis da Unisinos, Clóvis Kronbauer, lembra que os professores abordam, ao longo do curso, os conteúdos do exame de suficiência. Em sala de aula, com frequência, são feitos exercícios com as questões de anos anteriores. “Nós não preparamos o aluno especificamente para o exame de suficiência, mas sim para exercer a profissão. E sabemos aquilo que o Conselho Federal quer”, analisa. O docente lembra que a grade curricular passou por uma série de alterações, adequando-se a normas e pronunciamentos contábeis recentes. Cerca de 80% dos alunos da universidade que prestaram a prova no ano passado foram bem-sucedidos.
Na Ufrgs, uma modificação nos conteúdos das disciplinas deve entrar em vigor neste ano, focando questões ligadas à tecnologia e ao empreendedorismo. Na mais recente edição da prova do CFC, o índice de aprovação ultrapassou 90%, de acordo com o coordenador do curso de Ciências Contábeis da Ufrgs, Ariel Behr. “Os alunos são preparados ao longo do curso. Não há algo específico para o exame”, destaca, ao defender que uma qualificação transversal, no decorrer da graduação, e não feita às vésperas da data marcada.
Situação semelhante ocorre na Pucrs. “O exame não impacta no conteúdo do curso, mas claro que as disciplinas precisam ser contemporâneas e acompanhar os temas novos da contabilidade”, diz o coordenador da graduação, Saulo Armos.
Passar na prova é o primeiro passo para exercer a profissão
Em setembro do ano passado, o então estudante de Ciências Contábeis da Unisinos Virgílio Müller figurava entre os 1.527 gaúchos que responderam as 50 questões da prova de suficiência para bacharéis. Como estava no final da graduação, decidiu se inscrever para descobrir como era o exame. Pouco tempo depois, viu que era um dos 942 aprovados. Em janeiro se formou, já com o registro em mãos. “Solicitei o registro definitivo após a colação de grau”, explica Müller. Estudantes podem realizar a prova e requerer um registro provisório, tendo o prazo de dois anos de validade. Se o candidato não se graduar nesse meio tempo, a aprovação expira.
Müller começou a estudar contabilidade em 2008, no olho do furação das mudanças provocadas pela necessidade de adoção das normais internacionais. Quando iniciou na faculdade, ainda não havia a necessidade de prestar o exame para obter o registro profissional para exercer a profissão. Mesmo assim, o jovem se mostra favorável à obrigatoriedade da prova. “É uma boa maneira de nivelar o ensino da contabilidade. E permite selecionar os bons profissionais”, opina.
Ainda na faculdade, ele já trabalhava em empresas no setor contábil. Com diploma e registro garantidos, Müller se tornou sócio em um escritório de contabilidade em Estância Velha, onde vive. Para quem vai prestar o exame em março, o contador alerta: não adianta deixar para estudar apenas na última hora. “A prova te faz pensar. Tem muitas questões difíceis, que são de interpretação. Não adianta só decorar, é preciso ter o conhecimento”, salienta.
Por: Fernando Soares
Fonte: Jornal do Comércio – RS